Muitos têm sido os debates em
torno da Eutanásia e da Morte Assistida que temos assistido nos últimos tempos.
Felizmente que o pluralismo social e a liberdade de pensamento nos têm levado a
uma dinâmica que não passa apenas pelo sim ou pelo não. Vai muito para além
disso.
Ainda na passada segunda-feira
(17 de fevereiro de 2020), no debate promovido pelo Prós e Contras, vimos
diversos pontos de vista e ouvimos: constitucionalistas, advogados, políticos,
médicos, treinadores de futebol, crentes e não crentes. Foi um debate de alguma
elevação e que trouxe, a meu ver, o ponto principal no meio de tudo isto, o
princípio da autonomia.
Todos somos livres, condicionados
por muitos factores, mas felizmente, livres para tomar diversas opções na nossa
vida. No entanto, existe uma em específico que, por mais livres que sejamos,
não a podemos tomar: a de viver!
Ouvimos vários intervenientes
dizer que a Eutanásia feria a vida e que eram sim necessários os cuidados
paliativos. Ouvimos outros dizer que temos que ter cuidado com a obstinação
terapêutica, que muitas vezes não cuida, apenas prolonga de forma cruel a vida.
Ouvimos ainda quem falasse de uma escolha plena de liberdade, no sentido de não
ser necessária análise de ninguém, apenas o direito a morrer e ponto final.
Depois o ex-deputado Adolfo
Mesquita Nunes levantou aquela que, quanto a mim, é a questão principal, a tal
e afamada, desejada, venerada e idolatrada liberdade de escolha, que mais não é
que uma escolha muito condicionada por uma análise clínica que a pode declinar.
Com isto percebemos que a Eutanásia não é de modo algum aquilo que a própria
palavra quer traduzir, não é uma morte feliz por escolha pessoal, mas sim por
escolha de outros (leia-se comissão de médicos e outros profissionais, que
decide).
Então, o que se está a decidir é
tornar legal algo que é crime. Nada mais que isso! Não prolonguemos esta
mentira pegada de populismo demagógico que apenas confunde as pessoas.
No ano 2018, mais precisamente,
no dia 26 de Março pelas 14:30 mais coisa menos coisa, a minha mãe diz “Se houvesse
a Eutanásia, eu pediria.” As dores eram muitas e a medicação não estava a fazer
efeito. A terapia da dor, (que acredito que tenha procurado fazer o melhor)
tinha tirado a terapêutica prescrita pela oncologista que a acompanhava e posto
algo que “não estava a funcionar.” Aquilo para mim foi um soar bem alto ao
ouvido: “Pedro faz alguma coisa, mexe-te!” Falei com a médica que a acompanhava
e a terapêutica foi novamente ajustada. Nesse dia 26 à noite fui ao hospital
novamente, e aquela mulher que gemia de dor, sorria de esperança!!!
Às vezes
pode não parecer, mas mais que fazer o doente sofrer há que criar condições de
conforto na doença e simplesmente procurar tudo para os confortar! Foi também
essa a noite em que tive aquela conversa onde se fala de tudo, se agradece tudo
e se pede perdão pelo que não conseguimos fazer de melhor!
Nunca será fácil recordar aqueles
meses de terapêuticas atrás de terapêuticas, mas também seria para mim difícil
se as coisas, que culminaram no dia 31 de Março, não tivessem acontecido de
forma natural...
Deixem-me morrer quando a vida
assim o determinar e não houver mais terapêutica que me possa ajudar, deixem-me
morrer quando tiver que ser e como tiver que ser.
Sim, porque no fundo eu já
decidi, não quero que me matem, quero é morrer!
Pe. Pedro Nóbrega
19-02-2020