sexta-feira, 6 de abril de 2018

Ainda o corpo da minha mãe arrefecia...



Vivemos num mundo carregado de afetos, de gestos de carinho, de pessoas que nos momentos de enorme dificuldade estão ao lado das outras e sobretudo das que precisam de alento para no meio da adversidade começarem a sorrir.
Quando descobri a doença da minha mãe senti que o mundo ia desabar e foram muitos os momentos em que pensava para mim “Porquê?” “Porquê a esta mulher que tanto trabalhou, que tanto se deu por mim?”  Não sentia justiça alguma neste acontecimento. Mas depois, passados uns instantes percebi que não podia estar naquela derrota e que tinha sim, que aproveitar enquanto a minha mãe estava junto de mim! Agarrei-me à força da medicina, aos médicos, enfermeiros e auxiliares e vi sempre neles o rosto de Deus que cuida... Mas quando saía daquele hospital... Quando saía daquele hospital tantas vezes sentia a necessidade de alguém que me desse um abraço e que me dissesse “Confia Pedro, eu estou aqui...” 
Felizmente após a vinda, em janeiro de 2017, para casa tal apareceu e foram muitas as pessoas que a visitaram na casa paroquial, cuidaram dela... Mas houve uma que se deixou também cuidar pela minha mãe, deixou-se ser filha, deixou-se amar por ela... Margarida, só tu e ela sabem como o vosso amor era especial, só tu e ela sabem as vezes em que ali sentada do lado dela lhe davas a tranquilidade suficiente para passar os dias em que o Pedro, por ter outras coisas também importantes, não podia estar... Por isso não é justo que mesmo no leito da morte, quando a minha mãe acabara de morrer se começasse a espalhar que o Pe. Pedro tinha uma relação com a Margarida! 
Sim, espalhou-se isso com maldade com mesquinhez, com sentido de destruir uma relação de "irmãos". 
Eu acredito nos anjos, e sei que eles cuidaram da minha mãe. A Margarida foi sem dúvida uma dessas pessoas que em forma de anjo abraçou e cuidou. Oxalá muitos dos que tiveram oportunidade tivessem feito tanto como ela. A Margarida não merece ser tratada assim, não merece que olhem para ela como se estivesse a desencaminhar a minha vocação. Sejam crescidos e reparem no MAL que estão a causar a dois corações! 
Nesta semana já muitos me perguntaram se estou em paz. Eu respondo que sim, mas quem espalhou este mal entendido quer é guerra, quem espalhou esta mentira quer é sangue, quer ver gestos de muito carinho, que reconfortaram no momento certo a transformarem-se em graves consequências pessoais!

DEIXEM A MARGARIDA EM PAZ!!!

Pe. Pedro | 6 de Abril de 2018

terça-feira, 3 de abril de 2018

Foi o funeral mais bonito da minha vida...



Parece tudo tão estranho o que tem acontecido nestes últimos dias. Sim, estranho porque quando se "perde" uma mãe o normal é sentir dor, revolta, angustia e medo mas... O que sinto é completamente diferente do habitual. Sinto uma paz interior enorme, um consolo por ter feito tudo o que podia por ela: por ter dado a mão quando devia, beijado quando devia, falado quando devia... Sinto que não deixei nada por fazer à minha mãe... É verdade que durante meses senti medo misturado com esperança, senti que a vida estava por um fio. É verdade que naquele Natal de 2016, a notícia do cancro foi como uma bomba caída na minha vida, mas eu como padre, nesse momento, senti que a minha mãe não precisava da minha revolta mas da minha esperança. Não precisava de sentir os meus medos, de ver as minhas lágrimas, mas precisava de mim como um provocador de esperança na vida dela. Sinto neste momento que vem do Céu uma brisa suave que me acalma e deixa escrever estas linhas com as ligaduras que nestes dias recebi... Obrigado a todos os que me ajudaram nesta via sacra. Foi tão especial perceber que se pode sofrer sorrindo, que se pode ter medo amando, que se pode pensar na morte como lugar de vida. E tu, se estás a ler estas palavras e chegaste até aqui é porque me ajudaste e queres compreender o que sinto... A ti especialmente sente ao ouvido aquele OBRIGADO que apenas um coração em paz te pode dizer. 
Ontem naquela igreja da Camacha , lugar onde tantas vezes com a mãe celebrei a fé, lugar onde ela cheia de amor, de orgulho e de paz me viu celebrar a Missa Nova, senti uma leveza enorme... Senti tanto aquela expressão de Jesus ressuscitado dizendo "A paz esteja convosco." Senti a Páscoa a acontecer, o mistério de quem, como a minha mãe, acredita que a nossa vida não é só deste mundo...
A minha mãe e eu preparamos muito aquele momento, e quer ela quer eu, desejávamos que fosse algo muito especial, mas não foi especial... Foi divino, foi um claro sinal de Deus agradecendo todos os que por ela fizeram bem... Ela estava ali, descansadinha, a "dormir eternamente". A pedir por mim para que não faltasse a coragem de lhe dizer obrigado a sorrir, de agradecer aos corações que ela cativou, de ser sinal, naquele momento de dor de que é possível viver a morte como vida!
Obrigado a ti por me ajudares a sentir que este foi o funeral mais bonito da minha vida!
Mãe descansa em paz, na gloria do Céu olha por mim para que, acima de qualquer coisa, seja um padre fiel e feliz!

Pe. Pedro Nóbrega
3 de Abril de 2018

Eu não queria ir às JMJLISBOA2023, a razão obrigou… A BONDADE GANHOU!

Sim, é verdade, mesmo depois de ter participado nas JMJ de 2011 em Madrid, de 2016 em Cracóvia, durante muito tempo andei desinteressado das...